Se fôssemos perguntados sobre o que entendemos por família, certamente viria à nossa mente algum “modelo familiar”. Quando falamos em família logo pensamos no jeito e na realidade da nossa própria família. Geralmente damos muita ênfase ao modelo de família. E como gostaríamos de poder afirmar que o conceito de família (com pai, mãe, filhos e filhas) é a imagem de Deus! Porém, nem sempre associar família à imagem de Deus é possível.
Se não é possível associar diretamente e categoricamente “família” com “imagem de Deus”, torna-se necessário perguntar-se pelo porquê. A bíblia, apresenta vários modelos familiares, dependendo da cultura e dos povos em questão. No entanto, não são os modelos familiares que determinam o ser de uma família, mas sim, que tipo de relacionamentos existem na família. Quero aqui apontar para as relações afetivas. Como estão as relações entre as pessoas que compõem a família? Qual é a imagem de família que temos e como a definimos? Como estão as relações existentes em sua família? Ao olhar para a sua própria família, qual sentimento lhe vem? Que relações tem ali? Como estão estas relações? Até que ponto as relações existentes na sua família são relações saudáveis ou doentias? Acredito que esta é uma temática muito pertinente nestes dias, novamente levantada, após nos depararmos com noticiários chocantes de nossa região.
Quando pensamos em família constatamos que existem diversos tipos de composição familiares. Existem famílias constituídas com filhos e filhas, mães e pais divorciados ou recasados; famílias monoparentais, ou seja, onde apenas o pai ou a mãe assume a responsabilidade com os filhos; existem famílias unipessoais, onde a pessoa ora sozinha por opção ou necessidade; uniões consensuais onde casais não formalizam sua união; casais sem filhos por opção, entre muitas outras formas de organização familiar que poderíamos aqui citar.
Conforme o posicionamento da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) sobre família, podemos perceber uma forma muito interessante de ver e perceber a família. Ali lemos: “Sob família a Igreja entende o grupo de pessoas relacionadas entre si por laços de parentesco, afetividade, compromisso ou comunhão cristã. Portanto, o conceito de família vai além do grupo de pessoas formado por pai, mãe, filhos e filhas, vivendo legalmente sob o mesmo teto. Com respeito e amor, a comunidade cristã também aceita, acolhe e ampara grupos familiares com características especiais.”
Para o Antigo Testamento bíblico a família era uma instituição onde o homem era o chefe e a garantia de sua descendência. Na história de Abraão nem é usado o termo “família”, e sim, o termo “casa”. O uso desse termo permite que toda a parentela do patriarca seja considerada, assim como seus escravos e qualquer outra pessoas que vivia sob os seus cuidados, como membro da família. Inclui tanto os membros do mesmo sangue quanto os que viviam nessa instituição social (família) com a finalidade de procriação e do sustento econômico dos membros do grupo familiar.
No Novo Testamento bíblico, Jesus traz uma visão inovadora sobre a família. Para Ele, as famílias são formadas por aquelas pessoas que escutam e fazem vontade de Deus. (confira em Marcos 3.31-35) Não há sujeição ou submissão, porém todos estão em relação de igualdade.
Na era da modernidade acontece uma mudança no conceito de família. À luz dos direitos individuais, a idéia do pai como chefe da casa, dá lugar a um conceito de igualdade entre os membros da família. Criou-se um estilo de vida onde se sonhava com uma imagem de “família ideal”. Esta seria composta por um casal que irá se amar por toda a vida, com no máximo três filhos/as. O pai garantirá o sustento de todos e a mãe cuidará dos filhos, do marido e da casa. Mas nesse caso, o real e o imaginário sempre entram em conflito. Isso fez com que pessoas tivessem que lidar com estas duas imagens. Por isso, existe a “família pensada” e a “família real” que estão lado-a-lado. A família pensada é aquela onde há o pai, a mão e filhos/as. E a real é a que existe no dia-a-dia, seja ela como for.
A instituição família está passando por mudanças.
Até aqui vimos que existem várias formas de organização familiar e que, na trajetória humana diferentes atribuições foram sendo definidas para esta instituição tão antiga quanto multiforme. Da mesma forma foram sendo definidos o papel a ser desempenhado por cada um dos componentes familiares. Podemos ainda acrescentar, neste contexto, que as expectativas em relação ao papel que cada parte tem a ser desempenhado nem sempre foram atendidas. Aliás, estes também foram sendo moldados e re-moldados em cada caso. Vimos também que mais importante do que a estrutura familiar é o tipo de relação que existe entre as partes.
Damos continuidade à esta temática dizendo: as famílias constituídas de formas diversas estão capacitadas para educar sujeitos ético de igual forma que as famílias ditas como “tradicionais”.
A família, quando bem estruturada e com relações sadias, torna-se por assim dizer, o sinal do amor de Deus. Independentemente do “modelo”, a família é uma aliança de pessoas. O que torna esta aliança sinal do amor de Deus são as relações saudáveis que ela estabelece. Existem normas e valores fundamentais numa família: responsabilidade, fidelidade, disciplina, reciprocidade, justiça, respeito, lealdade e honestidade para com as crianças e pessoas adultas, bem como defesa dos valores protegidos pelos direitos humanos em termos de saúde, educação e bem estar social.
A bíblia aponta aspectos fundamentais para uma relação familiar saudável. Podemos relacionar aqui cinco desses aspectos.
O primeiro aspecto que poderíamos destacar é o da comunhão. A comunhão pressupõe o entendimento numa relação de igualdade. Jesus ressalta a importância do serviço ao próximo. E isso vale também para a vivência harmoniosa dentro do seio familiar. Jesus, quando aponta para as relações de desigualdade entre as pessoas, diz: “Mas entre vocês não pode ser assim. Pelo contrário, quem quiser ser importante, que sirva os outros.” (Marcos 10.43) Frequentemente as pessoas estabelecem relações de superioridade. E quando há superiores, logicamente haverá também inferiores, e dentro dessa lógica não haverá mais espaço para o diálogo, muito menos para uma iteração saudável.
O segundo aspecto que podemos destacar é o exercício dos dons. Cada ser humano possui dons e, por vezes, são diferentes dos dons de outras pessoas. Isso não deve ser motivo de separação. Muito pelo contrário, deve ser motivo de graça e gratidão. Nesta relação aprende-se a renunciar a interesses próprios e abrir-se para as necessidades dos outros.
Os dons diferentes completam as relações e mostram que ninguém é autossuficiente. O apostolo Paulo lembra-nos esta relação de pertença na sua primeira carta aos Coríntios 12.12-16. Assim como num corpo cada membro é importante, também na relação familiar o mesmo acontece. Isso vale para a relação dentro de cada família, mas, também na relação com as outras famílias.
Somos desafiados a perceber os diferentes dons que existem nas famílias e em nossa própria família, bem como a administrar este dons. 1 Pedro 4.10 recomenda: “Sejam bons administradores dos diferentes dons que receberam de Deus. Que cada um use o seu próprio dom para o bem dos outros.”
O terceiro aspecto a ser destacado é o respeito ao diferente. Geralmente é fácil relacionar-se com quem pensa e age de forma parecida com a gente. A bíblia nos ensina algo diferente. Em Mateus 5.43-46 Jesus nos ensina: “Vocês ouviram o que foi dito: “Ame os seus amigos e odeie os seus inimigos.” Mas eu lhes digo: amem os seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês, para que vocês se tornem filhos do Pai de vocês, que está no céu. Porque ele faz com que o sol brilhe sobre os bons e sobre os maus e dá chuvas tanto para os que fazem o bem como para os que fazem o mal. Se vocês amam somente aqueles que os amam, por que esperam que Deus lhes dê alguma recompensa?
Conforme estas palavras de Jesus, podemos afirmar que a família precisa estar disposta a relaciona-se também com o diferente. Por exemplo, o que fazer quando um membro da família tem alguém com necessidades especiais? Ou nascida assim ou por algum fato que lhe deu esta condição. Ou como lidar com a situação de uma família que abriga pessoas com restrições alimentares? Ou poderíamos também nos perguntar: Como lidamos em nossa família com opiniões diferentes no que respeito à futebol, política, fé ou outro assunto? Ou ainda: como estabelecer uma relação saudável numa família cujos membros tem condições sexuais diferentes (heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade e assexualidade)?
O quarto aspecto nos fala da educação familiar. O amor é a base das relações, ou seja, é a relação por excelência. Ou seja, para relacionar-se de forma saudável é preciso gostar de três pessoas: de Deus, do outro e de si mesmo. (“Ame o Senhor, seu Deus, com todo o coração, com toda a alma e com toda a mente.” “Ame os outros como você ama a você mesmo.” - Mateus 22.37 e 39) a partir do texto bíblico, o amor não existe verdadeiramente quando não estiver relacionado nestas três esferas. A relação passa necessariamente por estas três dimensões. (Leia Efésios 6.1-4)
E não por último, o quinto aspecto a ser destacado é a relação com o mundo. A família não pode esquecer que sua relação se dá dentro do mundo, de um todo maior. Por isso, deve sempre levar em consideração a realidade atual, procurando detectar situações de miséria, sofrimento, egoísmo, injustiças sociais, e estar disposta a colaborar na transformação de tais relações, a fim de construir um mundo de solidariedade, fraternidade, amor e justiça. E em meio à isso preparar as novas gerações a perceberem estes aspectos sociais educando-os como cidadãos conscientes e responsáveis. Sabemos que o exemplo sempre foi a melhor forma de ensinar.
Jesus sempre foi muito crítico perante a família, porque ela muitas vezes é excudente, corporativista e limitada, estreitando a dimensão do amor (Mateus 10.37). O perigo está na família transformar-se num gueto, isolando-se do restante da sociedade. Uma família assim tenta acobertar a verdade, omitir a crítica por causa dos vínculos de sangue, raça, etnia, cultura e até mesmo religião. Fora dos muros que conhecemos também existem pessoas irmãs.
No exercício dessas relações o mundo pode ser transformado num ambiente mais saudável de vida, em que a justiça de deus reine. Espera-se que relações saudáveis possam ser pequenos sinais do reino de Deus já hoje. Que relações saudáveis sejam o fundamento de toda família, não importando o seu modelo.
Observação: O texto acima está baseado na publicação do Sínodo Noroeste Rio-grandense da IECLB intitulado “Modelos familiares”
Fonte: Pastor Edison Elias Scheer Hunsche
Post. Eloídes Nunes.
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